segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Artigo: "Eleitores ou clientes" (31/01/2011)

“Os políticos ganham bem, por isso podem me ajudar”. Quantas vezes já ouvimos esta frase? Ou então aquela outra: “Lá em casa tem quatro, cinco ou seis votos. Se a gente ganhar uma ajuda, votamos em ti”. Apesar da compra e venda de votos serem crimes, é comum a prática de “doações” no meio político.
Confidencio que é frustrante este comportamento. Decepciona quando percebo que é isso que esperam de mim. O tão pouco que exigem dos políticos em geral. Que uma ajuda na compra de gás, um auxílio para a conta de água, ou luz, ou cesta básica são determinantes na hora de escolher os representantes. Que currículo e competência são secundários. Importa mais se contribuiu financeiramente com algum tipo de festividade ou evento.
Na Câmara, também recebemos pedidos de auxílio financeiro. Tanto individuais como de entidades. É bem verdade que o número de pedintes e a freqüência com que visitam os gabinetes dos vereadores reduziram. Um pouco porque concordamos, no início desta legislatura, que não usaríamos este expediente. Que tentaríamos mostrar que o papel do vereador não é ajudar individualmente ou resolver questões particulares.
Não sei até que ponto está claro para a população qual a importância e as atribuições de um vereador. Uma parcela ainda acredita que temos obrigação de auxiliar com dinheiro e solucionar dificuldades pessoais. Resultado de uma cultura pública paternalista, onde mandato tem a ver com troca de favores. Eleição e voto significam benefício pessoal ou patrocínio.
Fácil é acusar os políticos de corruptos. Difícil é entender que se alguém compra é porque tem alguém que vende. Se há corrupto é porque alguém se deixa corromper. Mais complicado é compreender que corrupção é corrupção. Não importa se envolve milhões ou pequenos favorecimentos. Quem pede, dá ou desvia alguns Reais, certamente pediria, daria e desviaria muito mais se tivesse acesso a grandes somas financeiras. Apenas uma questão de oportunidade. Sei que o sistema público é falho e que há toda espécie de necessidades que precisam ser supridas. E que um auxílio eventual, numa situação pontual, pode até acontecer. O que não podemos é aceitar isso como regra, transformando eleitores em clientes ou mandatos numa rede de favores.
Uma política honesta, séria e eficiente depende de uma mudança profunda de comportamento. Não só dos políticos, mas da sociedade como um todo. Enquanto atendemos as particularidades, deixamos de pensar no coletivo. Enquanto houver troca de favores não haverá políticas públicas eficazes. Se não mudarmos nossa forma de pensar e agir permaneceremos nesse sistema político clientelista e corrupto.
Um sistema limitado, que não cumpre seu papel, não constrói, não transforma, não satisfaz nem atende a sociedade como um todo. Um sistema onde faltam exigências, mas sobram reclamações.

Artigo: "Desafio de caminhar" (24/01/2011)

As campanhas de estímulo à prática de exercícios físicos são antigas. Conheço muitas pessoas que tem imenso prazer em freqüentar uma academia. Sentem-se revigorados com a ginástica. Outras tantas não dispensam uma caminhada diária, ou ainda, uma boa “pedalada”.
Dia desses à tardinha, passando pela beira do Rio Caí, deparei com dezenas de montenegrinos a caminhar. Eu, no carro, fiquei a admirar o ritmo daqueles caminhantes. A calçada do cais não comportava tanta gente. Usavam os dois lados da rua. Pessoas de todos os tipos e de todas as idades. Passo a passo, iam se aproximando ou se distanciando.
Abordei o movimento na beira do rio nos finais de tarde e o grande número de pessoas que escolhiam aquele trajeto para fazer suas caminhadas numa conversa, tempos depois. Foi quando alguém comentou que esta prática em Montenegro é um verdadeiro desafio. Com a experiência de quem tem anos e anos de caminhadas e alterna diferentes percursos de tempos em tempos, falou que existem muitos obstáculos que dificultam o exercício. Fez-me um relato, rico em detalhes.
O Parque Centenário, que sempre foi o “point” do exercício ao ar livre, precisa ser repensado, melhor cuidado. A pista de caminhada está pesada por causa do material colocado. Um tipo de brita que dificulta a caminhada e não impede que levante uma nuvem de poeira no horário de maior fluxo. Muitos escolhem outro local para se exercitar por causa da poeira. Sentem dificuldade para respirar e temem alguma reação alérgica.
Na beira do rio há problemas nos passeios. Tanto no “calçadão” como no outro lado da rua. Em grande parte do trecho existem calçadas, mas elas estão mal conservadas e cheias de desníveis. Nestes pontos, então, as pessoas usam a pista de rolamento, dividindo o espaço com ônibus, carros, motos e bicicletas.
Aliás, as calçadas defeituosas – ou inexistentes – tornam dificultoso o caminho de quem opta por andar pelas principais ruas da cidade. Nestas também há quem prefira usar o acostamento, apesar do perigo que o fluxo de veículos representa. Isto sem contar outros obstáculos que precisam ser contornados, como as motos e bicicletas estacionadas sobre as calçadas ou as placas de propaganda.
Depois de ouvir atentamente o relato, cheguei a duas conclusões. A primeira é de que tanto o Parque Centenário quanto a beira do rio precisam ser reavaliados. Coisa que já venho sugerindo há tempo. Inclusive, propus que o parque tenha um Plano Diretor próprio. Está provado que apesar do mínimo de estrutura que oferecem, conseguem atrair um grande número de pessoas.
A segunda conclusão imediata é de que os montenegrinos prezam pela qualidade de vida e buscam hábitos saudáveis. Só isso explica ou justifica desafiar o trânsito caótico e enfrentar tantos obstáculos por uma caminhada.

Artigo: "Somatório de culpas" (17/01/2011)

Temos assistido - por enquanto de longe – às tragédias relacionadas ao clima. Atrelar toda culpa à natureza é uma forma cômoda e simplista de encarar o problema. Afinal, não é fácil domar a força do vento, do sol ou chuva. Também não podemos atribuir tudo aos governos, apesar de sabermos que eles não combatem com eficiência o crescimento urbano desordenado. Da mesma forma não é justo apontar como única culpada a população, mesmo quando esta usa as encostas de morros, beira de rios ou margem de córregos para fixar moradia.
Creio que a maioria, ao analisar a situação chegará à conclusão, assim como eu, de que estas tragédias são um somatório de culpas. Infelizmente, apesar de todos os exemplos já vividos e de toda discussão que sempre aflora toda vez que chove demais – ou de menos -, não aprendemos a planejar ou prevenir.
No início do mês, quando uma chuva mais forte atingiu Montenegro tivemos de enfrentar, de novo, a invasão das águas do Arroio Montenegro. Pensávamos que este problema estava resolvido, depois de tantos mandos e desmandos, após tanta demora e alto investimento.
Engano. Bastou uma precipitação acima do normal para que o arroio transbordasse. A Prefeitura defende a obra e diz que a culpa é do lixo, que entupiu a entrada e impediu a vazão da água. Admitiu, porém, que ainda faltam alguns serviços – arroio acima – para evitar que a sujeira fique acumulada.
Depois do alagamento um “arrastão” de limpeza foi feito. O arroio foi vistoriado em quase toda sua extensão. Até os postos de visita “do conduto” foram abertos. Uma medida simples, mas muito eficiente, que deveria ser adotada como regra. A limpeza regular evitaria problemas maiores. Investir na prevenção, quase sempre, é mais barato e eficaz.
Não se pode eximir a população, é lógico. Depositar lixo dentro ou nas margens do arroio é, no mínimo, imprudente. Lixo domiciliar então, para o qual existe serviço de coleta, é imperdoável.
Se analisarmos mais ao fundo a questão da cidade, veremos muitas contradições. Ninguém suporta inundações, mas o asfalto é a glória. Tanto para quem faz, como para quem recebe. Pouco importa questões como permeabilidade do solo, drenagem urbana ou vazão do rio e seus afluentes. Se analisarmos mais ao fundo, veremos que sugestões como o “Rua Limpa”, que apresentei para que tivéssemos o recolhimento sistemático de materiais nos bairros – como pneus, restos de construção, galhos –, acabam engavetadas. A proposta pára na gaveta. Já os materiais são descartados em qualquer lugar.
Ao invés de ficar imputando culpas, melhor seria assumir responsabilidades. Se cada um cumprir a sua parte, muitas calamidades serão evitadas. Conscientização, planejamento e prevenção. Esta é a receita. Toda vez que esquecemos ou adiamos estas ações, sofremos as conseqüências. Literalmente deixamos nossas boas intenções ou cidadania “ir por água abaixo”.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Artigo: "Simpatia ou competência" (10/01/2010)

Dias atrás li um artigo que tratava das características de um bom político. Falava de uma pesquisa sobre o que é importante para o eleitor na hora de escolher seus representantes. Trazia vários exemplos brasileiros – entre eles Lula e Tiririca – e modelos de outros países, como Hugo Chavez, Fidel Castro e Barack Obama.
Os dados trazidos, confesso, não me surpreenderam. Justamente por reproduzirem o que já venho percebendo ao longo dos anos. As pessoas querem uma coisa do gestor público, mas votam em outra. Fiquei a refletir no que transforma os políticos em personagens. No paradeiro dos valores essenciais. No porque um atributo como simpatia é mais importante do que capacidade, conhecimento, ética, honestidade e competência.
Fiquei pensando que há muito tempo pessoas próximas a mim pedem para que eu seja diferente. Alegam que não basta estar preparado, não é suficiente ter vontade ou experiência. É quase como se fosse preciso representar. Estar sempre sorridente, mesmo diante de situações catastróficas. Sempre simpático, mesmo diante de propostas indecorosas ou indecentes.
O que a maioria não entende é que apesar de político somos pessoas normais. Daquelas que têm problemas na família, nos negócios. Que têm dias ruins, dúvidas e medos. Exigir-nos simpatia o tempo todo, determinar o sorriso, a disposição para “um tapinha nas costas” ininterruptamente, é quase desumano. E na minha concepção, não serve de forma alguma para qualificar um bom gestor público.
Vivemos um tempo em que político é sinônimo de corrupção. Ficar em cima do muro. Refrear pensamentos e atitudes. Tudo em prol do “não se queimar”. O ideal é ficar bem com todos. Quando estamos numa roda de amigos e alguém se esquiva de opinar sobre determinado assunto, costumamos dizer que está agindo como político. Será? Desde quando político deixou de ser o exercer a política? Sim, porque política – e está no dicionário – são práticas relativas ao Estado ou a uma sociedade. É a arte de bem governar, de cuidar dos negócios públicos.
Jamais confundam política com politicagem. E, sinceramente, jamais exijam que eu seja diferente ou abdique dos valores que herdei de meu pai e minha mãe – e busco repassar para meus filhos – como condição primeira para meu êxito como político. Apesar de todos os exemplos que me possam ser apresentados, prefiro ser fiel ao que sou. Prefiro me ater ao que aprendi ao longo dos anos e com as experiências vividas. Na família, nos negócios, na vida pública.
Nunca consegui fingir. Sou péssimo na arte de representar. Dificilmente conseguirei mudar minha forma de ser ou agir. Tenho convicções, opinião, história e disposição. Se como sou não serve ao meu partido, ou à cidade, só me resta lamentar. Lamento pelo afago que não dei àqueles que vivem em função de bajulações. Lamento, enfim, acreditar na política séria. Aquela que leva em consideração o coletivo. Que cumpre o que promete. Que se dedica e transforma.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Artigo: "Feliz Cidade" (03/01/2011)

Está difícil encontrar o tom exato desta coluna. A primeira do ano. Não quero soar pessimista, apesar dos tantos motivos que me deixam assim, no que se refere, principalmente, à política ou está relacionado com a minha vida pública. Também não posso parecer animado demais. Seria uma fraude.
Ser prático e realista nestas horas é o ideal. Nem supervalorizar as perdas, tampouco superestimar as conquistas. Tarefa difícil. Mesmo ainda contagiado pelo espírito de Ano Novo, e repleto de tantas mensagens carinhosas e otimistas, não consigo me livrar da sensação de vazio. Olho para trás e vejo uma sucessão de dias, de meses e... Vácuo.
Tento relembrar tudo que coloquei neste espaço semanal durante 2010. Pesar os acontecimentos, ponderar o que vivenciamos nos últimos doze meses. As expectativas que tínhamos no mesmo período, há um ano. Destas, quais realizamos e quais se perderam no meio do caminho.
A “balança” pende para menos. Percebo que eu queria ir além. Acreditava em muito mais. Será que sou apenas eu que tenho essa frustrante sensação? Será que sou apenas eu que não me enquadro no “jogo do contente” de Pollyanna, aquela do livro? Por que não consigo ficar à vontade na ilha da fantasia, onde tudo está sempre bem? Onde o vento sopra sempre a favor e não há problema nenhum? Quer dizer, há problemas sim, mas todo mundo disfarça, finge que não sabe ou que não vê.
Certo. Também concordo que 2010 se foi e que não há como voltar atrás. Mudar o caminho já percorrido. Porém, é importante refletir sobre o que podia ter sido diferente e melhor. A partir daí refazer o plano, corrigir o rumo. Não estou à procura das causas ou de culpa. Quando se trata de questões coletivas são muitas as causas. Senão de todos, pelo menos da maioria, é a culpa. Inclusive minha ou até sua.
Acredito que a grande magia deste momento está justamente na oportunidade que temos de recomeçar. No desafio de recuperar o tempo perdido. Estamos iniciando um novo ano. É sempre outra chance. Uma dose extra de motivação e esperança.
Próspero Ano Novo! Que em 2011 tenhamos “feliz cidade”.