segunda-feira, 28 de junho de 2010

Artigo: "Inverter a ordem" (28/06/2010)

A partir desta semana, com o final das convenções partidárias, ficarão definidos os nomes que estarão concorrendo nas eleições de outubro. Apesar de todas – e tantas – notícias acerca das negociações entre as siglas, dos apoios ou repúdios a esta ou aquela candidatura, o processo até o momento esteve restrito aos partidos políticos. Neste período o eleitor, principal elemento de todo este processo, foi mero expectador, enquanto líderes debatiam as vantagens e desvantagens de fazer alianças.
Mais uma vez o que se viu foi uma preocupação enorme com as chances de vitória, com o espaço ganho ou perdido. Coligações pela vitória, para ganhar a eleição. Pouco, ou quase nada, foi feito ou acordado com base em propostas. Sobre parcerias alicerçadas em projetos.
Talvez seja por isso que os eleitores, na grande maioria, dizem que votam na pessoa. Descolam o candidato do partido. Fica difícil para o cidadão compreender porque um apoio que dá certo em nível federal, não funciona no estado, ou vice-versa. É complicado para ele entender porque as rivalidades políticas existentes no município - e que por isso ele conhece mais de perto – serão esquecidas ou mascaradas por três meses. E como, depois da eleição, tudo voltará a ser como era antes.
Não estou aqui condenando ou absolvendo os métodos usados na montagem das candidaturas. Nem tampouco querendo analisar as coligações. Se elas terão êxito, ou não, as urnas irão mostrar em breve. Se elas são boas, ou não, duráveis, confiáveis e eficientes, veremos ao longo dos próximos quatro anos. Pouco tempo se der certo. Prazo demais se der errado.
Manifesto apenas minha percepção diante do cenário político montado. Divido aquela minha velha insatisfação com a maneira de fazer e discutir política. Esta fórmula, a meu ver equivocada e falha, que divide cargos, nomeações, participações, mas esquece de levar em conta afinidades com planos de governo.
Sei o quanto é bom e importante vencer uma eleição. Que ninguém se candidata pensando em fazer errado ou querendo o mal da coletividade. Não, claro que não. Todos acreditam ser a melhor alternativa, que têm a capacidade e força necessárias para representar a população. Por isso que concorrem. Por isso querem ganhar. Mesmo compreendendo as razões, não concordo com os métodos usados nas alianças políticas. Entendo o “porque”, mas discordo do “como”. Para mim, é preciso haver uma inversão na ordem das coisas. Penso que antes dos nomes deve vir o plano. Antes das coligações, a discussão do projeto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Artigo: "A cidade do poema" (21/06/2010)

Quando iniciei a preparação desta coluna – quase que escrevi concentração, por causa da overdose de futebol dos últimos dias - fui interrompido pelo meu filho Bernardo, de 8 anos. Ávido pela escrita, não é raro ele externar seus pensamentos com papel e caneta. Seguidamente recebo dele sugestões de temas para os artigos. Desta vez apresentou-me um poema.
Nas rimas de quem está descobrindo as palavras e com a ingenuidade de uma criança, que certamente não entende porque as coisas estão assim, mas sabe que podia ser diferente e melhor, meu filho fala da cidade, da falta de limpeza e da vontade de morar num lugar limpo e bonito. Obrigou-me a deixar o raciocínio inicial de lado e refletir. Quando foi mesmo a última vez que admirei o asseio de Montenegro? Como a cidade ganhou este aspecto sujo e desleixado? Quando foi que deixei de me importar com isso? Por que uma criança olha ao redor e vê uma cidade feia?
Relendo os versos infantis percebo que para ele, que nada entende de orçamento para capina e varrição, PIB, êxodo rural, inchaço urbano, planejamento ou licitação, o que importa é andar por ruas sem buracos e por calçadas inteiras e limpas. Ter uma cidade arborizada, florida. De preferência ensolarada e colorida. Lixeiras sendo usadas. Praças e parques em condições.
Não é difícil criar (ou resgatar) este cenário desejado pelo Bernardo. Mas para isso, é necessário que tiremos a indiferença do nosso cotidiano. Que nos preocupemos com a paisagem e cuidemos da nossa casa, da nossa rua e do nosso bairro. Precisamos recuperar e trazer à tona nosso orgulho e auto-estima.
Muitos devem estar perguntando se isto será possível com tantas obras demoradas, inacabadas ou mal feitas, tantos problemas urbanos e as inúmeras aberrações relativas à ocupação do solo. Acredito que sim. Como? Cada um fazendo sua parte. Poder público e cidadãos. Uma cidade limpa e bonita precisa da participação, do comprometimento e do cuidado de todos.
Gostamos de reclamar da falta de investimentos em infra-estrutura (ato legítimo, sem dúvida) e muitas vezes imputamos aos outros toda responsabilidade. Como se não tivéssemos deveres, continuamos jogando o papel de bala no chão. Não consertamos a calçada, não aparamos a grama. Depredamos bancos, arrancamos flores. Ignoramos o que diz o Código de Obras e de Posturas.
Enfim, esquecemos que a beleza e a limpeza dependem também de pequenos gestos. Da minha atitude e da disposição de cada um para começar e mudar. É simples, mas enorme em importância, assim como a mensagem trazida pelo poema do Bernardo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Artigo "Caminho Certo" (14/06/2010)

Leis existem. São Muitas. Dizem respeito a tudo e, na teoria, aplicam-se a todos. Na prática, no entanto, as regras dificilmente são cumpridas, desde as mais simples até as mais complexas. Pouco importa se é proibido, obrigatório ou não permitido. Sempre é possível dar um “jeitinho”. O que interessa é a minha vantagem. Resolver o meu problema. Choveu e o arroio transbordou? A boca de lobo entupiu? Ora, a culpa não é minha, pois não sou só eu que jogo lixo ali. A locadora fechou? Nada tenho a ver com isso, afinal tenho poucos CDs piratas em casa. Alguém caiu? Ah, com certeza foi desatenção ou problema de visão. Jamais seria porque tem um buraco na minha calçada ou falta manutenção da rua. Ratos, cobras e doenças? Culpa do aquecimento global... Nunca por causa do mato e entulho no terreno.
Nesta cultura do “jeitinho” que adotamos, o culpado está sempre longe de nós. Normalmente, imputamos aos outros as obrigações e o cumprimento da lei, mas esquecemos que também temos as mesmas responsabilidades. Adoramos reclamar nossos direitos, mas preferimos esquecer os deveres e acabamos errando, tanto por ação quanto por omissão. E quando surgem mecanismos de fiscalização e punição, discordamos. De tudo e imediatamente.
Não estou aqui falando apenas de pessoas ou do setor privado. Enquadro também o setor público, que peca por não atender expectativas e demandas ou por justificativas esdrúxulas para a sua ineficiência ou inércia. Não me atenho, tampouco, à esfera municipal.
Se cada um de nós (público e privado) assumisse seu papel e cumprisse com seus deveres, não haveria porque reivindicar direitos. Ficaria tudo certo e assegurado. Muito mais fácil e menos oneroso. Ganharíamos mais tempo planejando resultados e gastaríamos menos energia corrigindo. Ou fiscalizando, ou buscando mecanismos de reparação ou punição.
Toda vez que dou um “jeitinho” algo ou alguém é prejudicado. Sempre que eu descumpro a lei ou consigo encontrar um desvio que me favoreça, penalizo outro. Sei que é difícil levantar o olhar e vislumbrar em derredor. Deixar de lado o individualismo e pensar no coletivo. Porém, precisamos estar cientes de que nossos atos têm conseqüências. Algumas vezes imediatas, outras vezes num médio ou longo prazo. De uma forma ou outra, o que fazemos repercute. Afeta o próximo e o distante.
Voltando ao início, as leis existem e são para todos. Cabe a cada um de nós, entretanto, obedecer e aplicar. Ou arcar com as conseqüências. Entender que o caminho certo quase nunca é o mais fácil ou o mais curto. Perceber que o grande desafio está em abrir mão do “meu” para alcançar o “nosso”.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Artigo: "É Rua Limpa" (07/06/2010)

Ouvi e vi (estampado em manchetes nos jornais), com satisfação, o anúncio de que a prefeitura realizará, sistematicamente, limpeza nos bairros da cidade. O depósito inapropriado de lixo e entulhos é um problema urbano crônico. Sem condições de pagar um serviço particular de recolhimento, os chamados tele-entulhos, a população ocupa terrenos baldios e vias públicas. Descarta suas sobras de qualquer maneira, indiferente à questão ambiental ou de saúde pública.
Muitos apontam que falta consciência da população. Outros preferem responsabilizar o poder público. A verdade é que, na questão do lixo, não existe um único culpado, nem tampouco um único responsável. Todos somos. Cada um precisa ajudar e deve cumprir o seu papel.
O mutirão de limpeza realizado no Arroio da Cria, na semana passada, apenas comprovou o que já sabemos há muito tempo: as águas e margens dos arroios são usadas como depósito para lixo e outros materiais. E não é só morador das proximidades que joga detritos ali. Tem gente que vem de longe, de carro, para fazer seu descarte. Do arroio e da área ao redor foram retirados pneus, monitores de TV e computador, sofás, toca-discos, faixas de propaganda... E claro, muito plástico (milhares de garrafas e sacolas) e vidro. Se fizéssemos mutirão em outro arroio, o resultado seria o mesmo. Não é à toa que as águas dos córregos, a qualquer chuva mais forte, saem do leito e invadem ruas e casas. O lixo acumula e entope, impedindo a vazão normal da água.
Aí está a importância do recolhimento de entulhos nos bairros. Um trabalho regular, com cronograma pré-fixado e divulgado com antecedência, reduzirá o descarte indiscriminado. As pessoas saberão que haverá data e lugar para entregar suas sobras. Também poderão ser estimulados mutirões de limpeza e ações de sensibilização, no sentido de mostrar os prejuízos, ao meio ambiente e à saúde, que o lixo e os entulhos espalhados podem causar.
Foi justamente isso que propus em julho do ano passado, na Indicação que encaminhei ao prefeito, pedindo que fosse criado o “Programa Rua Limpa”. Apesar ter nome diferente, o trabalho anunciado como “Sábado é Dia de Limpeza” é idêntico ao que sugeri. Fico feliz porque uma sugestão minha será colocada em prática. Também porque o problema do entulho começa a ser pensado e resolvido. E o que é melhor, com a participação da comunidade, numa parceria entre órgãos da Administração Municipal e os moradores.