segunda-feira, 25 de abril de 2011

Artigo:"Deixar para depois" (25/04/2011)

Aqueles que acompanham esta coluna sabem que tenho batido na mesma tecla desde o início. Até quem lê meus artigos só esporadicamente percebe que insisto no assunto. É que mesmo quando não pretendo, acabo falando sobre ele. Já nem sei se sou eu que o persigo ou se é ele que não desgruda de mim. O tal planejamento.
A verdade é que tudo que acontece na cidade tem a ver com ele, ou quase sempre, está relacionado à ausência dele. Quando ele não está presente vive-se só reagindo, amenizando. Como se diz, no popular, correndo atrás do prejuízo.
Um exemplo? Distribuição de água tratada. Havia um contrato (convênio) de vinte anos entre a Prefeitura e a Corsan. Período longo, o que dava certa tranqüilidade. Porém, sabia-se que este contrato findaria e que em algum momento teria de ser discutido e negociado. Bem antes do seu vencimento, até pela importância do serviço prestado, a sua renovação devia ter sido analisada. Tivemos duas décadas para tratar do assunto. Tempo mais que suficiente para planejar, avaliar e debater alternativas com a comunidade. Mas não... Foi-se levando, deixando para depois. O prazo expirou e ficamos sem contrato.
Nesta mesma direção – ou melhor dizendo – nesta mesma falta de direção, vai a limpeza urbana. O contrato do lixo, outro exemplo, já venceu e vem sendo prorrogado sistematicamente, apesar do alto custo e da eficiência, questionável, no mínimo, do serviço. O Ministério Público precisou intervir no uso do lixão. Deu prazo para desativá-lo e recuperar a área. Fixou multa se houver descumprimento.
Este hábito de protelar não é de hoje. É histórico, cultural. Está arraigado ao setor público. Apesar de saber e reconhecer que é melhor prevenir, se vai remediando. Ao invés de construir alternativas planejadas, se vai adotando medidas paliativas, ações pontuais. Talvez na ilusão de que as soluções apareçam por conta própria ou, melhor ainda, os problemas desapareçam num passe de mágica.
Infelizmente, não há magia. As demandas da cidade que se apresentam e crescem a cada dia e, sobretudo, os casos que usei como exemplos não se resolvem espontaneamente. É preciso intervir e trabalhar por soluções eficientes, que evitem um colapso nos serviços essenciais, impeça a vazão de recursos públicos e protejam a cidade (seus moradores) de problemas ou prejuízos.
Não há mais como adiar. É preciso atitude. Depressa, mas com planejamento. Firme, mas sem teimosia.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Artigo: "Disposição para construir" (18/04/2011)

É constante a pergunta sobre a minha candidatura a prefeito. É contínua minha resposta de que estou à disposição, tenho vontade, mas que esta decisão não é só minha. Depende do partido, das circunstâncias. Não estou desconversando, tão pouco protelando ou desviando do assunto. Já iniciamos a discussão dentro do PP e tenho, reiteradas vezes, manifestado a opinião de que antes do nome deve vir o projeto. Tenho, repetidas vezes, lembrado que precisamos saber onde queremos chegar. A construção de um plano para Montenegro é maior que a indicação do nome. Melhor ainda seria se esta proposta de cidade tivesse uma participação mais ampla. Não ficasse restrita a um partido, segmento ou grupo somente. Mas para isso teríamos que estar abertos. Deixar para trás aquele ranço político, os manjados rótulos com os quais insistimos em carimbar os outros. Teríamos que nos permitir – e permitir aos demais – ouvir, ponderar e dividir. Sei que isto é complicado. Sempre haverá confronto de idéias. Diferentes modos de ver e analisar. Porém, acredito que é justamente nessa diversidade de conceitos e opiniões que está a possibilidade de encontrar o caminho certo. Uma cidade não se constrói ou se transforma com apenas uma ou duas pessoas. Depende do envolvimento de todos que fazem parte dela – estando à frente ou não. Uma cidade tem o tamanho que damos a ela, o desempenho que exigimos dela. Nos últimos tempos, principalmente através dos meios de comunicação e, sobretudo, pela internet, um grande número de montenegrinos tem externado opinião sobre o que acontece na cidade. Estas manifestações demonstram vontade de participar. Revelam, mesmo que quase sempre em tom de crítica, a disposição de construir uma realidade diferente, um ambiente melhor. Esse momento, em que se avizinha uma eleição municipal, quando tantos temas importantes e polêmicos estão em pauta, é ideal para dividirmos a tarefa de decidir. Propício para refletir sobre o papel que desempenhamos. Favorável ao debate. Mas é preciso, para realmente transformar a realidade, que estejamos dispostos a participar de forma comprometida. Sem rótulos. Sem preconceito. Sem intolerância. Que o foco seja a cidade e o que pensamos e faremos pelo futuro dela.

Artigo: "Trabalho conjunto" (28/02/2011)

Até pouco tempo atrás, o que era público ficava a cargo só – e tão somente – do estado. Havia uma divisória nítida entre o público e o privado. Cada um agia dentro do seu setor. Não existia muito diálogo ou reflexões sobre o quanto um é importante para a existência do outro. Cada um crescia, ou regredia sem perceber (ou admitir) o quanto o sucesso e fracasso do outro influenciavam. Até pouco tempo atrás, na política, havia situação e oposição. Assim era do início ao fim. Todo mundo sabia de que lado estava, com quem se afinava. Sabia quem e o que deveria apoiar. Aquilo ou aqueles que deveria repudiar. Era preto ou branco. Nada de nuances cinzas, governabilidade ou acordos pré-eleitorais. Até pouco tempo atrás poder público, empresários e cidadãos eram três entes separados. Viviam longe um do outro. Não se falava em participação, em coletividade. Não havia espaço para opiniões. Era tudo à revelia, separado, unilateral. Bem, mas isso foi até bem pouco tempo atrás. Hoje, não há desenvolvimento sem parcerias público-privadas. Não há crescimento sem gestões públicas participativas e inclusivas. Não há resultados se não houver divisão de responsabilidades, espaço para o diálogo. Se não houver união em torno de objetivos comuns, nada acontece. Nada prospera. Percebemos que uma cidade melhora quando gestores públicos e comunidade estão afinados. Quando um busca no outro a solução e encontra. Quando cada um se dispõe a fazer a sua parte e coopera. Quando há respeito mútuo. Quando se divide responsabilidades e conquistas. Quando existe ambiente para opinar, sugerir, modificar. Ninguém levanta pela manhã com o intuito de destruir a cidade, bairro ou rua onde mora. Não há quem acorde pensando num plano para que tudo dê errado. Ou tome atitudes querendo o pior. Claro que não. Todo mundo quer o melhor, viver bem e ser feliz. Porém, nem sempre as ações são as mais apropriadas. Por vezes, o que traçamos não dá o resultado esperado. Aí, precisamos revisar nossos planos, ouvir, por vezes desfazer e recomeçar. Reconhecer que erramos. Aceitar contribuições alheias, auxílio externo. Na política, apesar do emaranhado de coligações e apoios, ainda há muita resistência em dividir sucessos, em admitir que o coletivo propiciou melhorias, em aceitar que o esforço conjunto sempre dá mais resultado. Ainda mais quando as ideologias são diferentes, quando o modo de agir diverge daquele que usamos ou esperamos. As verdadeiras e boas mudanças vêm através de parcerias. São raros os casos em que se muda a realidade de um município isoladamente. É preciso cumplicidade para que as coisas aconteçam e dêem certo. Ser cúmplice, neste caso, não significa concordar com tudo. Tão pouco fazer-se de cego, surdo e mudo. Quer dizer apoio, disposição, participação. E quando se consegue isso com diferentes partidos, com diferentes segmentos, deve-se comemorar. Jamais esconder ou omitir.